quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ESCONDERIJO DE AGUAPÉS Da serie piscinas: Ambientes para convivencia pacifica

Esta instalação foi construída agora, no incício de 2010, mas o projeto é de 2008.

A exposição foi no Centro Cultural BNB - Cariri em Juazeiro do Norte (CE).


Texto de Renato Silva



"Ah, o tempo é o mágico de todas as traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a que se afizeram, mais e mais."

João Guimarães Rosa - “O Espelho”

A esfera do improvável que permeia a obra de Daniel Murgel incomoda por diversos motivos, mas, podemos nos voltar ao mais próximo. Afinal, para que nos dedicarmos a mergulhar no tanque e buscar o aconchego de uma casa onde nos poríamos no absurdo do cárcere que nos sufocaria?

Nos choca o domínio que se impõe pelo objeto, intrigante em suas impossibilidades. A contraditoriedade estabelecida entre o querer e a repulsa é o indicativo de que o artista se mostra imune aos nossos apelos em chegar até ele sem que haja nesse processo um mínimo de intimidade e reflexão. Ele docemente nos corrompe. Oferece-nos um telhado que emerge convidativo. O assombro de habitarmos juntos aos seres que nele costumam deitar a sua liberdade. Mas há ainda a questão levantada anteriormente e que aflitivamente, ecoa em nós.

Daniel Murgel nos permite a apreciação de sua idéia de aconchego no cárcere, porém, nossa posição é incômoda. Estamos no externo da prisão e nesta queremos adentrar. O jardim, símbolo de conforto é por nós ansiado e para nele nos instalarmos é necessário transpor alguns obstáculos. O problema está em saber, exatamente, quais e o que significam esses. Talvez o Ficus, transparente em sua força descomunal em manter-se vivo em meio à hostilidade do meio nos faça refletir sobre nossas limitações.

O sujeito elaborado em cada um dos trabalhos de Daniel Murgel elucida questões e aponta significados distantes de nossa razão. Entender o teórico e conviver com o metafórico em sua obra nos conduz à esfera do fascínio; tamanha a dedicação com que continuamos na tentativa em esquematizá-la quando nos afastamos de seu contato.

O sentido de percepção espacial e os caminhos oblíquos percorridos pelo artista em sua busca por criar as dimensões possíveis para o seu desdobramento pictórico e intervencional nos transtornam em demasia. Há em seus trabalhos algo que nos venda ao expor-nos às idiossincrasias que acabam por nos transportar - como que passageiros de seus devaneios - nos escondendo por trás de seu pensamento. Transforma-nos em voyeurs particulares de suas criações.
O que existe da verdade nessa casa? Nós a desejamos por seu possível aconchego, mas somos impelidos, em cada momento, a desvendar as pistas deixadas como forma de entendermos o nosso meio. Afinal, a transitoriedade daqueles que se ordenam libertos, é também o nosso desejo. Contudo, ainda buscamos o conforto do cárcere. Contraditórios que somos.

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